Escola Secundária Afonso Lopes Vieira recebeu comemorações do centenário do escritor Manuel Ferreira
As comemorações do centenário do nascimento de Manuel Ferreira tiveram início esta terça-feira na Escola Secundária Afonso Lopes Vieira (ESALV), com um seminário sobre a vida e obra deste escritor leiriense, em que participou o professor universitário Pires Laranjeira, um dos maiores estudiosos da sua produção literária.
Na sessão, a vereadora da Educação da Câmara Municipal de Leiria, Anabela Graça, revelou que, para além deste seminário, está a ser preparado um conjunto de iniciativas para assinalar o centenário do nascimento do escritor, como um sarau de literatura e poesia, dia 18 de julho, data do seu nascimento, uma exposição itinerante pelas escolas do concelho no próximo ano letivo e um colóquio sobre o autor.
Este programa, destacou, tem como objetivo a comemoração da vida e obra deste autor leiriense, dando a conhecer aos jovens a sua produção literária, valorizando também o nosso património.
Por seu turno, Pedro Biscaia, diretor da ESALV, realçou a importância de as comemorações terem tido início precisamente numa escola localizada na localidade de onde o autor é natural. “Uma escola só o é quando percebe e dialoga com o meio em que está inserida”, disse.
O orador convidado, Pires Laranjeira, destacou a importância desta homenagem a “um homem extraordinário”, que, sendo originário de uma família de escassos recursos financeiros, conseguiu ganhar notoriedade mundial, sendo reconhecido como um dos maiores especialistas e difusores da literatura africana escrita em português.
O professor universitário destacou ainda o posicionamento político de intervenção na sociedade de Manuel Ferreira, defensor da causa da liberdade.
“Antes do 25 de abril de 1974 já se integrava no movimento político contra a ditadura”, disse, destacando ainda o papel que representa na história da literatura cabo-verdiana, citando “A aventura crioula”, uma obra considerada a “bíblia da cultura” daquele país.
Manuel Ferreira
A obra ensaística e literária de Manuel Ferreira está profundamente marcada pela sua vivência africana. Através dela expressa a repressão do colonialismo e do regime nas comunidades onde marcou presença.
O seu estudo e pensamento sobre a literatura africana é hoje incontornável para a investigação nesta área.
Estreou-se como escritor em 1944 com a publicação do romance Grei, seguindo-se a Casa dos Motas (1956), ambas as obras integram-se claramente na corrente neorrealista que despontava na época.
Seguiram-se os seus romances de inspiração africana. Em meados dos anos 70 do século XX, já em Portugal, criou na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa uma cátedra dedicada à Literatura Africana de Expressão Portuguesa.
Na sua atividade de escritor colaborou e fundou diversas revistas literárias, nomeadamente, África – Literatura, Arte e Cultura. Publicou vários livros de literatura para a infância.
Recebeu ainda diversos prémios, com Morabeza, em 1958, o Prémio Fernão Mendes Pinto, com Hora Di Bai, em 1968, o Prémio Ricardo Malheiros e, em 1967, o Prémio da Imprensa Cultural para A Aventura Crioula. Em 1991, foi distinguido com o título de cidadão honorário da cidade de Mindelo (Cabo Verde) pelo seu papel de divulgador e estudioso das literaturas dos PALOP.