Ministro fala em “grande cidade da cultura' na inauguração do centro de Diálogo Intercultural de Leiria
A abertura do Centro de Diálogo Intercultural de Leiria (CDIL) constitui mais um passo na candidatura de Leiria a Capital Europeia da Cultura, destacou o vice-presidente da Câmara Municipal de Leiria, Gonçalo Lopes, na cerimónia de inauguração do espaço, que decorreu esta quarta-feira, com a presença do ministro da Cultura, Luís Filipe de Castro Mendes, que se referiu a Leiria como “uma grande cidade da cultura”.
“É este também o berço do desafio da candidatura a Capital Europeia da Cultura, alicerçada numa comunhão de interesses de toda a região de Leiria, validada pela população e representantes das instituições identitárias de um território comum”, disse Gonçalo Lopes, destacando o papel que a arte e inovação na promoção do diálogo entre pessoas, comunidades e até fações, contribuindo para combater o extremismo e a intolerância.
“Salvar vidas, como o fez o padre Joaquim Carreira, e ‘Dar novos mundos aos Mundo’, como aconteceu com o Almanaque leiriense durante os Descobrimentos, não são causas pequenas. É este contributo e esta riqueza que queremos celebrar doravante no Centro de Diálogo Intercultural de Leiria”, disse o vice-presidente da Câmara Municipal de Leiria.
Na sua intervenção, Gonçalo Lopes destacou ainda outros investimentos do Município nas áreas da cultura e da preservação do património, de que são exemplos a aquisição da Villa Portela que irá servir de casa da arte contemporânea, bem como do antigo DRM que irá acolher o acervo de arte sacra da região de Leiria, e ainda a reabilitação do castelo, com um investimento de cinco milhões de euros para valorizar e tornar ainda mais acessível aquele que é já o monumento com maior capacidade de atração em Leiria.
Na sessão, o provedor da Santa Casa da Misericórdia de Leiria, Carlos Poço, instituição que estabeleceu um protocolo com o Município que permitiu a instalação do CDIL na antiga Igreja da Misericórdia, destacou a importância do projeto, que constitui “um bom exemplo de serviço público”.
“A criação do CDIL neste espaço, para além de inovador, é uma forma justa de colocar um bem de interesse público ao serviço da comunidade”, referiu Carlos Poço, realçando a exemplar união de esforços entre diversas instituições para a concretização do CDIL.
Susana Ramos, coordenadora da Unidade Nacional de Gestão da EE A Grants, instituição que contribuiu monetariamente para este projeto com 207 mil euros, num total de quase 600 mil euros, destacou a importância de um espaço que promove o encontro entre as culturas cristã, judaica e muçulmana.
O embaixador da Noruega em Portugal, Anders Erdal, destacou igualmente a relevância do CDIL, “em especial num tempo em que a tolerância e compreensão entre povos de diferentes crenças é crucial”.
O ministro da Cultura, Luís Filipe de Castro Mendes, destacou a importância desta iniciativa da Câmara Municipal de Leiria, que “em boa hora decidiu promover um local de encontro das três religiões do Livro”.
“É um desafio para nós reencontrarmos formas de equilibrar a coexistência entre religiões”, disse o ministro da Cultura, realçando facto de Portugal não registar ainda fenómenos de “populismo xenófobo que se dirige contra religiões específicas, como se elas fossem uma ameaça para a coesão e para a identidade nacional”.
Na sua intervenção, o governante disse ainda ter conhecimento da pretensão já assumida pelo município de apresentar uma candidatura a Capital Europeia da Cultura em 2027, destacando o trabalho que está a ser desenvolvido em Leiria na área cultural.
“Leiria é uma grande cidade da cultura, uma cidade que merece reconhecimento pelo trabalho que desenvolve na área cultural”, destacou.
Investimento de 570 mil euros
Para a constituição deste espaço museológico foram investidos mais de 570 mil euros no restauro da antiga igreja da Misericórdia e projeto museológico.
Recorde-se que a Igreja da Misericórdia foi construída em 1544 sobre a sinagoga da comunidade judaica de Leiria que ali existia antes, constituindo um dos 12 projetos âncora, entre os 25 que integram o projeto das Rotas Sefarad, considerado "vital" para o sucesso da Rede de Judiarias de Portugal.
Com um objetivo cultural, ecuménico e turístico, o Centro de Diálogo Intercultural pretende interpretar a presença, ao longo dos séculos, de três importantes religiões em Leiria.
O espaço valoriza a coexistência do Cristianismo, Judaísmo e Islamismo, que se tornaram uma marca de desenvolvimento e de multicuralismo da região até hoje, graças ao acolhimento e contributo cultural e económico de várias comunidades migrantes.
A Rede de Judiarias de Portugal candidatou as Rotas Sefarad ao programa EE A Grants, que conta com uma forte participação da Noruega, mas também da Islândia e do Lichenstein.
O projeto centra-se ainda nas memórias multiculturais de Leiria, como é o caso do poeta, cristão-novo, Francisco Rodrigues Lobo, ou do Padre Joaquim Carreira, que salvou dezenas de pessoas de origem hebraica durante a 2.ª Guerra Mundial.
Constituídas com o objetivo de valorizar a identidade judaica portuguesa no diálogo intercultural, as Rotas de Sefarad integram, no caso de Leiria, a perspetiva da confluência de culturas com a revitalização das memórias judaica e cristã.
A recriação da tipografia da família Orta, onde foi impressa pela primeira vez em Portugal uma obra de caráter científico, o "Almanach Perpetuum", ou tabelas astronómicas, de Abraão Zacuto, assim como a memória da própria Santa Casa da Misericórdia, complementam o projeto que se estende até à Casa dos Pintores.
Centro de Diálogo Intercultural de Leiria
Horários
Segunda a sexta: 09:30 às 12:30 e 14:00 às 17:30
Sábados, domingos e feriados: 14:00 às 17:30