Fotografia moçambicana em exposição no m|i|mo
“40 Anos - 4 fotógrafos: Moçambique em Foco” é a exposição que vai estar patente no m|i|mo – museu da imagem em movimento, entre 6 de junho e 22 de agosto
Para mostrar a importância da fotografia moçambicana, esta exposição vai reunir um conjunto alargado de obras de quatro fotógrafos moçambicanos, muitas das quais expostas desde 2008 em várias iniciativas e, outras tantas, escolhidas para este novo projeto, cuja oportunidade se destaca na ocasião em que se celebram os 40 anos da independência de Moçambique.
Moira Forjaz, José Cabral, Luís Basto e Filipe Branquinho são os fotógrafos cujos trabalhos vão estar patentes no m|i|mo. Em paralelo, Ricardo Rangel, fotojornalista moçambicano nascido (1924-2009) em Lourenço Marques, cidade posteriormente renomeada para Maputo, é apresentado através da exibição de filmes dedicados à sua obra.
Quem são estes fotógrafos?
Moira Forjaz, nascida no Zimbabwe em 1942, é conhecida pelo livro "Muipiti", dedicado à mítica Ilha de Moçambique, editado em Lisboa pela Imprensa Nacional em 1983, por ocasião dos programas para a salvaguarda da sua arquitetura histórica que conduziram à inscrição na lista do Património Mundial da UNESCO em 1991. Além de fotógrafa, foi cineasta, galerista (em Lisboa, nos anos 90), depois diretora de festivais de música em Portugal e em Moçambique; em 2015 vai publicar um novo livro de fotografias sobre os primeiros anos do novo país. Nesta exposição apresenta-se uma seleção das provas de época («vintages») de “Muipiti - Ilha de Moçambique”, contando com os originais expostos nos inícios dos anos 80 ou reproduzidos nessa edição. Para além dos testemunhos patrimoniais do que foi a primeira capital moçambicana, é a serena cumplicidade entre a beleza dos cenários e a vida da sua população plural, no cruzamento de origens e de hábitos, que aí se vislumbra.
José Cabral (n. 1952) é um fotógrafo ativo desde a independência, com um trabalho documental e de criação pessoal que teve especial importância na abertura de novos caminhos para as gerações posteriores, distanciando-se do fotojornalismo impulsionado por Rangel e por Kok Nam antes e depois de 1975. Fotógrafo profissional no Instituto Nacional de Cinema, e integrando a sua equipa fundadora (1975-78), depois foto-repórter e professor no Centro de Formação Fotográfica de Moçambique, bolseiro em Itália e nos Estados Unidos, é um artista de grande cultura visual e literária que, num país ainda sem mercado para a fotografia independente, afirmou outros horizontes de criação e é também reconhecido como mestre.
Homenageado na edição de 2006 do festival Photofesta de Maputo, Cabral foi acentuando nas suas exposições mais recentes a diferença autoral e estética através de um enfoque em grande parte autobiográfico, às vezes provocadoramente intimista. Apresentam-se obras dessas exposições, «As Linhas da minha Mão», «Anjos Urbanos», sobre os seus filhos e os dos outros (Lisboa 2008), e «Espelhos Quebrados», os auto-retratos itinerantes (Maputo 2012), numa antologia alargada.
Luís Basto (n. 1969), autor com projeção internacional nas grandes exposições «Africa Remix», 2004, e «Snap Judgments – new positions in contemporary african photography», esta organizada por Orkui Enwezor, no ICP - International Center of Photography, Nova Iorque, 2006.
É um fotógrafo de Maputo e do difícil quotidiano da cidade, que retratou no livro “Voyage au Mozambique - Maputo” (Éditions du Garde-Temps, Paris 2005), mas também um notável paisagista. Com ele a mostra faz a transição do preto e branco para a cor, num último projeto de grande coerência conceptual e formal a que chamou «Espaços iluminados», apresentado em 2013.
Filipe Branquinho (n. 1977), um dos elementos da nova geração - em que se destacam também Mauro Pinto e Mário Macilau - que foi mostrada nas edições do BES Photo de 2011 a 2013. Se os anteriores fotógrafos puderam contar com os apoios da cooperação de Itália, França e Suíça, em especial, para potenciar o seu trabalho, o que culminou na digressão por vários países da exposição “Iluminando Vidas - Ricardo Rangel e a Fotografia Moçambicana” (Zurique, 2002), os novos fotógrafos já conseguiram aceder por si mesmos ao circuito das galerias e das feiras internacionais.
As fotografias de grande formato das séries «Ocupações», em que os modelos posam para o fotógrafo nos lugares de trabalho ou de residência, são uma marca forte do seu trabalho atualizando pelas novas vias do retrato a ambição da fotografia documental, numa direção muito atenta à mudança da sociedade moçambicana e totalmente alheia ao gosto pelo exotismo que marca muita da fotografia feita em África, por visitantes e também por africanos. Com uma nova série de trabalhos intitulada “Paisagens Interiores”, onde a arquitetura e os seus usos ganham especial importância, Branquinho foi muito recentemente distinguido como um dos cinco vencedores do importante Prémio POPCAP - the piclet.org prize for contemporary African Photography.