1437 Leiria
O Município de Leiria vai promover nos dias 18, 19, 25 e 26 de julho a iniciativa “Leiria 1437”, em substituição do Leiria Medieval que foi este ano cancelado devido à pandemia Covid-19.
Após o cancelamento do “Leiria Medieval 2020”, o Município decidiu avançar com esta iniciativa cultural com o objetivo de apoiar financeiramente os profissionais da cultura que colaboram regularmente na recriação histórica.
A par da componente de animação cultural nas ruas da cidade de Leiria e de algumas freguesias do concelho, o evento integra ainda uma campanha de sensibilização para o uso de máscara, a higienização e o distanciamento social.
Nestes quatro dias, a programação será assegurada pelos grupos Marimbondo, Tentart, Boca de cão, Thorsten, Lega Senso, Te-Ato, O Nariz, O Gato, Manipulartes, Teatro Apollo, Sport Operário Marinhense, Sport Império Marinhense, CaosArte, Teatro Alguidar, Espada Lusitana, Tocándar, Lôa Trovadoresca, Encerrado para Obras, Táse e Porta da Traição, que vão oferecer, num registo deambulante, momentos de diversão e sensibilização na cidade.
Tendo em conta o atual cenário de pandemia Covid-19, a organização opta por não anunciar horários nem locais, de modo a não contribuir para ajuntamentos de pessoas, optando-se por um registo que surpreenderá os utilizadores do espaço público que serão surpreendidos pelas atuações dos grupos participantes.
Quanto ao tema, viaja-se até à Leiria de 1437.
Como refere Luís Mourão, dramaturgo e encenador, este ano não há Leiria Medieval, “mas se a pandemia nos obriga a todos a ser cautelosos e impõe sensatas medidas de salvaguarda da nossa saúde individual e coletiva, força-nos igualmente a encontrar alternativas, desenhar novas formas de fazer e procurar modos seguros de estarmos juntos”.
Para o ano regressará esse breve momento de entretenimento e cultura que é o Leiria Medieval. E com ele, esperamos, a alegria que é sermos muitos.
E podemos revelar desde já que no próximo ano, o Leiria medieval, sobre as Cortes de 1438 encherá de novo as ruas e as praças da nossa cidade.
“Porém, tranquilamente e no respeito absoluto por todas as normas e disposições da Direção Geral da Saúde, este ano é outra coisa. Outra coisa mas, o mesmo respeito por todos os artistas que fazem da rua um palco e do público que lhes dá vida. Em 2020 fazemos, assim mesmo de surpresa...”, acrescenta Luís Mourão, que nos fala de 1437, quarto ano do reinado de D. Duarte, um ano que muitos gostavam que nunca tivesse existido (1).
“Até agosto, o país viveu mergulhado no afã febril dos preparativos diplomáticos, logísticos e bélicos para o assalto e conquista da cidade de Tânger, exaurindo os parcos recursos nacionais e esgotando todas as fontes de empréstimo. Depois do desastre de Tânger o reino sobreviveu submerso no desespero ainda maior gerado pela pesada derrota do exército de Portugal na costa marroquina, pela angústia e mágoa no desembarque dos feridos e estropiados e pela ansiedade e temor pelo futuro dos homens aprisionados e por aqueles que ficaram em Ceuta. Entre eles o infante D. Fernando, que como sabemos agora, morreria em 1443 no seu cativeiro em Fez.
Em 1437 o país tem fome. As más colheitas, o despovoamento dos campos e as dificuldades crescentes de importação de cereais, levam, mais uma vez, ao desespero (2).
A memória da grande e devastadora primeira vaga de Peste Bubónica que nos atormentou em 1348 e 1350, tinha deixado práticas de defesa que se vulgarizaram com efeitos relativamente positivos nos seus múltiplos recrudescimentos até ao século XIX.
Mas, apesar de tudo, continuava-se a viver. As pessoas continuavam a gostar de estar juntas. Continuavam a comer e a beber, a trabalhar e a divertir-se, a dormir e a acordar, a amarem-se e a detestarem-se na esperança sempre de chegar ao outro dia e começar tudo de novo.
Sabemos hoje que o conseguiram fazer”.
(1) Rui de Pina, Crónica do Rei D. Duarte, ed. org. pref. Borges Coelho, António: Lisboa, Editorial Presença, 1966, passim
(2) Cavaciocchi, Simonetta, Economic and Biological Interaction in Pre-Industrial Europe from the 13Th to the 18Th Centuries , Firenze: Firenze University Press, 2010, pp.74 e 75