Apresentação
Cemitério de Leiria – Santo António do Carrascal
Nota histórica
Leiria teve até ao final do século XVIII, como nas restantes localidades do país, a tradição de utilizar as Igrejas, os seus adros e envolvente, para efetuar os enterramentos.
Esta tradição para os católicos, maioritários na população portuguesa, não era contudo aplicada por exemplo aos judeus, a outras confissões religiosas ou aos não batizados.
As necrópoles ligadas às várias igrejas da cidade, ainda hoje se vão revelando nos vestígios encontrados, quer em trabalhos arqueológicos dedicados, quer noutras situações em que por qualquer motivo tenha havido remoção de solos naqueles locais.
Com a modernidade, em que o conhecimento científico progressivamente se foi autonomizando da tutela secular da religião, surgiram as primeiras reações à instalação de necrópoles nas igrejas, por força da necessária salubridade dos vivos, sem interferir com o repouso dos mortos, em locais a esse fim destinados, que mantivessem o estatuto sacralizado conforme o culto católico dominante.
Esta visão moderna foi defendida e praticada pelo Bispo de Leiria, D. Manuel de Aguiar, que numa iniciativa avançada para a sua época criou em 1798, o Cemitério da Sé, localizado nas suas traseiras, impedindo os enterramentos do interior da Igreja, tendo ele, por vontade própria, sido exemplo disso.
O cemitério da Sé de Leiria manteve-se até à construção do atual, localizado no morro de Santo António do Carrascal, inaugurado em 1871, depois de longo período de diligências e hipótese de localização, que decorreu desde 1835, data em que oficialmente são criados os cemitérios públicos e proibidos os enterramentos dentro das igrejas.
As várias manifestações de surtos de cólera durante o século XIX, contribuíram também, para que o cemitério fosse afastado do centro da cidade.
O Cemitério de Santo António do Carrascal, com 142 anos de existência, foi alvo de várias ampliações e melhoramentos, resultantes da necessária adequação à sua finalidade e ao crescimento populacional da cidade.
Destacam-se assim, a construção da capela do cemitério em 1881, da casa da guarda em 1902 e uma ampliação a norte na primeira década de novecentos.
Uma segunda ampliação em 1932 a poente e a construção de casa de autópsias em 1939 para substituição da que tinha anteriormente sido demolida junto à capela em 1935.
Uma terceira ampliação a nascente nos anos oitenta, e, fora dos seus muros, em terreno anexo, a construção da casa mortuária em 2006 para substituição da existente desde os anos 90 do século passado junto ao jardim de Santo Agostinho.
O Cemitério de Santo António do Carrascal é, no panorama do país, um dos interessantes exemplos de manifestação de arte de caráter funerário, quer durante o século XIX, quer durante o início do século XX, com exemplos de arte nova e outras artes decorativas, cuja memória e património devem ser preservados.
É ainda um auxiliar precioso em investigação genealógica, e representa também uma parte da nossa consciência individual e coletiva.
António Figueiredo – Jan 2013
Bibliografia:
- Anais do Município de Leiria – CML – 1983 – João Cabral
- O Cemitério de Santo António do Carrascal - Arte, História e Sociedade de Leiria no Século XIX – CML –
- 2001 – Ana Margarida Portela | Francisco Queiroz - (Estudo não publicado).