m|i|mo recebe Exposição Artistas na Fábrica
O Município de Leiria inaugura a 15 de junho, no m|i|mo - museu da imagem em movimento, a exposição Artistas na Fábrica, que estará patente durante um ano.
No decurso da segunda guerra mundial e no contexto de afirmação do neorrealismo nas artes plásticas, três jovens artistas realizaram, na região de Leiria, um conjunto de trabalhos de grande qualidade e importância, que manifestam o seu empenho em testemunhar as condições de trabalho do operariado fabril.
Manuel Filipe (1908-2002) realizou um conjunto impressionante de desenhos a carvão. Representam a dureza, o sofrimento e a falta de esperança de um operariado oprimido.
Tereza Arriaga (1915-2013) e Jorge de Oliveira (1924-2012) trabalham a partir da observação direta.
Tereza realizou dezenas de retratos de meninos-operários da Nacional Fábrica de Vidros – Marinha Grande, documento extraordinário da dureza das suas vidas sem infância, praticamente inédito e que será exposto pela primeira vez na sua totalidade.
Jorge de Oliveira desenhou na fábrica de cimentos da Maceira-Liz. Sonhava que as dezenas de desenhos realizados pudessem servir de base à elaboração de um grande mural, à semelhança do que faziam os pintores mexicanos que admirava.
As obras plásticas apresentadas são o cerne da exposição. Esta apresenta, ainda, uma diversidade de documentação escrita, de fotografias, filmes e fontes orais, que comunicam ao visitante o contexto histórico e social das obras. Incide-se, em especial, sobre as realidades fabris representadas, bem como sobre elementos relevantes da biografia dos artistas: a aproximação de Jorge de Oliveira ao trabalho do cimento, a receção inicial dos Desenhos negros de Manuel Filipe, ou o notável percurso ativista e militante de Tereza Arriaga.
A exposição culmina com um núcleo dedicado à cidade de Leiria, o lugar do seu encontro. Aqui participaram em exposições conjuntas e testemunharam o dinamismo cultural e político da cidade e das suas instituições – também visível na Marinha Grande – que fazia jus a dinâmicas artísticas anteriores, dos anos de 1920 e 1930 e refletia o ambiente esperançoso do imediato pós-guerra.
Inicialmente idealizada pelo Prof. João Bonifácio Serra (1949-2023), que a propôs à Câmara Municipal de Leiria, esta exposição atenta a importância do trabalho desenvolvido por estes artistas em Leiria no contexto do neorrealismo português. Embora sem ter tido a oportunidade de a concretizar, o Prof. João Bonifácio Serra é reconhecido como talvez o seu principal impulsionador.
Artistas na Fábrica conta com a curadoria de Raquel Henriques da Silva, historiadora de arte pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, e de Emília Margarida Marques, antropóloga pela Universidade Nova de Lisboa e investigadora.
O Município de Leiria, através do m|i|mo – museu da imagem em movimento, promove esta exposição em colaboração com o Museu de Leiria, as famílias de Tereza Arriaga, Jorge de Oliveira, e Manuel Filipe, e com o apoio de dezenas de parceiros locais e nacionais. Um verdadeiro projeto realizado em rede pelos museus de Leiria, que terá a duração de um ano, durante o qual, será ainda concretizado um programa cultural associado, que vai das artes plásticas, à literatura, passando pelo cinema e pela fotografia.
Raquel Henriques da Silva é especialista em História da Arte em Portugal século XIX-XXI, Museologia e Ciências do Património, tendo sido, entre outras funções, diretora do Museu do Chiado (1993-1997), do Instituto Português de Museus (1997-2002), e vogal da Comissão Nacional para as Comemorações do Centenário da República. Entre 2006 e 2016 integrou a direção do Instituto de História da Arte da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, coordenou a respetiva Revista de História da Arte e tem diversas obras publicadas nas áreas da Museologia, Urbanismo, Arquitetura, e Artes Visuais.
Emília Margarida Marques é Investigadora Associada do CRIA-Iscte - Centro em Rede de Investigação em Antropologia. Tem investigado e publicado sobre trabalho e técnica em contexto industrial; memórias do trabalho; trabalho, consumo, reprodução social e desigualdade; usos do filme de encomenda na industrialização portuguesa; história da indústria vidreira e dos vidreiros; memórias, identidades e história local. Integrou e/ou coordenou equipas de investigação sobre temas de memórias e identidades do trabalho, memórias locais e histórias de vida, circulação e cultura material, e cinema industrial.