Fórum debateu formação, terceira idade e associativismo
É indiscutível que, desde 1976, os municípios se afirmaram como o principal financiador do desenvolvimento desportivo nacional, por vontade própria ou por ausência de outras soluções (públicas ou privadas). No entanto, as autarquias, no cenário normativo português, deviam ter apenas um papel de complementaridade.
Contudo, apesar de as câmaras não terem uma responsabilidade directa sobre o sistema desportivo, sem a sua intervenção não seria possível o desenvolvimento de todas as áreas da oferta desportiva à população, nomeadamente ao nível local.
Este foi um dos temas que esteve em discussão no "Fórum do Desporto", promovido pela Câmara Municipal de Leiria, em parceria com o Centro de Investigação em Motricidade Humana do Instituto Politécnico de Leiria e a Leirisport, que decorreu no dia 21 de Maio, no Estádio Municipal de Leiria.
Após a intervenção de abertura realizada pelo Presidente da Câmara Municipal de Leiria, Raul Castro, sob a tónica das dificuldades de financiamento do Município face aos compromissos existentes, o Vereador do Desporto António Martinho apresentou as linhas gerais de orientação da política desportiva do Município, neste novo contexto, que passam por três pilares essenciais: Actividade física para a população; Modelo de gestão das instalações desportivas municipais; Reformulação do Programa de Apoio ao Associativismo Desportivo (PAAD).
No primeiro painel - "Estratégias na Formação Desportiva" - discutiu-se o modelo de desenvolvimento da formação desportiva, nomeadamente os objectivos que devem nortear o trabalho com crianças e jovens. Rui Matos, professor da Escola Superior de Educação e Ciências Sociais do Instituto Politécnico de Leiria (IPL), apresentou um conjunto de evidências sobre as contradições existentes entre os estudos científicos e pedagógicos e a generalidade do trabalho realizado no terreno.
Rui Matos referiu vários casos e enfermidades que o modelo nacional do desporto federado "obriga" os clubes a seguir e os prejuízos que se corre o risco de produzir ao nível da formação do indivíduo, enquanto desportista e enquanto pessoa.
A exclusão dos menos aptos, em determinado momento do seu desenvolvimento pessoal, a vertigem dos títulos e das medalhas em idades cada vez mais precoces, a perda de objectivos recreativos e a falta de preocupação com a felicidade dos jovens atletas foram tópicos para o debate que se seguiu a esta apresentação.
O segundo painel - "Estratégias na actividade física na terceira idade" - trouxe para o debate a importância de criação de serviços para novos segmentos, nomeadamente para os idosos, tendo em conta o envelhecimento da população. Este painel contou com as apresentações de Ana Comprido, professora do IPL e investigadora do Centro de Investigação de Motricidade Humana, e de Cláudia Fonseca e Artur Mendes, técnicos do Programa Viver Activo.
O terceiro painel foi dedicado ao tema "Sustentabilidade do Associativismo". Nuno Arroteia, professor da Escola Superior de Turismo e Tecnologia do Mar do IPL, centrou a sua comunicação no processo de criação e gestão de marcas no Associativismo Desportivo. Ricardo Luz, economista da Gestluz Consultores, abordou as opções que cada clube terá de adoptar, agora que o financiamento público (central e local) se esgotou, para obter a sustentação da sua actividade.
Debateram-se ainda as questões da concorrência e da extinção de alguns clubes ou modalidades, devido à falta de interesse que o mercado (famílias) terá na manutenção destas, em contraponto com o ressurgimento do associativismo mais participado e colaborante de todos os interessados naqueles clubes e modalidades que conseguirem estabelecer essa ligação com a comunidade.